Todos os dias pela manhã, eu sento na mesa da cozinha que fica bem ao lado de uma grande janela para escrever. Escrever qualquer coisa que me toque e expresse meu coração. Normalmente, a beleza ordinária de algo seduz meus olhos e isso basta para que palavras vivas, cheias de coração, surjam em minha frente. É um momento bem especial, um pequeno ritual, que não garante necessariamente bons textos, mas garante a pausa necessária para notar as pequenezas e deixar que os detalhes minúsculos encantem os sentidos e os sentires. E por que isso importa?
Num mundo rápido, automatizado e "eficaz" é comum esquecer que o nascer e o pôr do sol têm cores lindas, que as plantas na soleira da janela mudam todos os dias, que uma xícara de café bem aproveitada, além de saborosa, faz a segunda nem ser tão necessária e que aquela pessoa especial, seja um amigo, um amor ou um parente também se transforma inúmeras vezes e caminha junto com você em direção ao fim. Enquanto estamos imersos na nossa pequena realidade, o mundo se agiganta diante dos nossos olhos, num eterno looping de começos e fins. Eu não tenho a intenção de trazer pensamentos mórbidos em plena segunda-feira, mas o nosso entorpecimento como sociedade moderna me dá preguiça. A vida é muito mais do que nossa percepção limitida e nossa agenda cheia.
Realizar, servir, expressar seus talentos, desejos, aptidões, trabalhar em prol de algo, construir, é saudável e extremamente necessário, faz parte da nossa caminhada. Mas precisamos servir com o coração desperto, com os olhos abertos e limpos e com uma mente não tão feroz. Caso contrário, perdemos o pulso da vida, adormecemos o coração e envelhecemos cheio de coisas, enquanto por dentro o que fica é um vazio que incomoda.
O meu vazio quando aparece, eu resolvo com as pequenas coisas, nada muito grandioso. É um breve momento presente, inteira e com o coração vivo. É poder notar e ser tocada que me tornam humana. É saber o que importa e poder estar lá, fazendo o que importa. Sendo prazeroso ou não. É aprender a escutar. Notar a beleza e a feiúra das coisas é o que permite nos tornamos mais nós mesmos ao invés de repetir padrões. É se abrir para o discernimento e o contentamento que um coração não adormecido traz. E tudo isso normalmente descansa nos detalhes, aqueles detalhes que não cabem na nossa agenda.
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