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Foto do escritorJess Petkow Fraser

Negociando com o tal do perfeccionismo

Semana passada, me deparei com uma lista feita por uma dessas pessoas incríveis e reais que a vida te apresenta (e que me guiou num processo de mentoria que me ajudou mais do que ela pode imaginar) que explicava os tipos de pessoas baseados na sua capacidade de planejar e realmente colocar algo no mundo. Eu não lembro da lista completa e não poderia replicar ela fielmente, mas um dos tipos de pessoas que ela descreveu era algo assim:


Pessoas que planejam todas as etapas mas que nunca iniciam ou executam por causa do tal famoso perfeccionismo”.


Foi a única coisa da lista que eu realmente li e processei dentro de mim. Será que a carapuça* serviu?

Eu e o famoso perfeccionismo temos uma relação de longa data e até hoje na maioria das negociações que fazemos ele prevalece. Sua voz parece ser sempre mais alta, sua força parece bem maior que a minha, assim como sua experiencia. Antes de seguir adiante, uma pausa para definir esse perfeccionismo ao qual estou me referindo: medo de ser vulnerável, dúvidas, imperfeição, saber que não sei de tudo ( e muitas vezes não sei quase nada), não querer errar, não aceitar onde eu estou no processo, um pouco de arrogância, medo de ser uma pessoa real e em um eterno processo de aprendizagem. Porque eu sei que não vou conseguir fazer o que quero de uma forma perfeita, 100% correto e que seja bem recebido por todos, eu paro por ali ou timidamente, dou voltas e voltas em torno do que gostaria de realizar mas nunca vou direto ao ponto.

Perfeccionismo: medo de ser vulnerável, imperfeito e humano. Sabia que ele te impede de colocar ideias no mundo?

É muito mais “fácil” sustentar um sonho/plano/uma ideia no imaginário, do que colocar essa ideia no mundo e ver ela desaparecer porque talvez ela não funcione. Porém, eu tenho grandes suspeitas de que é bem mais dolorido e pesado, alimentar no imaginário algo que precisa ir pro mundo, do que colocar para fora e ver sua ideia falhar. Suspeito que a dor de ver algo que você quer e acredita muito não dando certo depois de tentativas honestas, seja bem menor do uma vida em que você não se deu uma chance, ou várias.

Como assim é muito mais “fácil”, mas pesado e dolorido? É bem provável que esse caminho do medo da imperfeição seja muito bem conhecido por você. Talvez, tudo o que você tenha feito até hoje tenha sido guiado por esse medo e não conheça outras maneiras. E às vezes o medo é tão grande que colocar suas cores no mundo parece mais uma grande piada do que uma ideia bacana. Por isso é fácil, com aspas. Um lugar conhecido e ruim é mais fácil de ser navegado do que um lugar desconhecido e bom. Simplesmente por ser novidade.

O novo é um lugar naturalmente temido já que lá você terá que desenvolver novas habilidades, descobrir novas rotas e principalmente, deixar o velho morrer. E cá entre nos, não nos damos muito bem com mortes e fins. Mas a vida se move o tempo inteiro. Não existe vida sem movimento, sem mudança. A vida é essa roda que sempre gira entre terminar e começar e mover-se é permitir que a vida te transforme ao invés de gastar toda sua energia se mantendo num lugar que já é muito pequeno e apertado. E o perfeccionismo nos prende nesse quarto escuro. Infinitas possibilidades, muitas ideias mofadas, mas pouca coisa expressada e um sorriso sempre tímido.

Olhando para minha jornada, tudo o que me trouxe mais gratificação, contentamento, satisfação e integridade foi feito de maneira imperfeita, com certo planejamento mas ao mesmo tempo grandes pontos de interrogações. Foi feito com muita coragem para errar e arcar com as consequências e também muita fé para ser guiada por lugares mais sutis que sussurram no coração através da intuição. Não existe nada melhor do que expressar sua verdade com integridade e colher os frutos disso, até mesmo quando não são bons. Afinal, nossa percepção é limitada, e vamos continuar ajustando essa percepção nessa eterna dança entre erros e acertos. Viver quem você é e se dar uma chance, vem junto com um tanto de paz, humildade e compaixão. Estamos todos nesse barco e não somos tão especiais e importantes como nossos medos nos contam.

Nesse exato momento, eu estou aqui trabalhando em uma ideia que tem todas as minhas cores, e sigo negociando diariamente com meus medos e aceitando minhas imperfeições. Preferia não ter que negociar nada e usar toda essa energia para criar, acertar, errar, ajustar e seguir em frente. Mas ainda não estou lá, quem sabe essa minha versão mais corajosa e imperfeita nasça junto com uma das minhas criações. Enquanto isso, sempre que fico muito presa na caixinha apertada do perfeccionismo eu me descanso nos meus valores para dar os próximos passos sem me perder: foco e fé.



Agradecimento especial para Milena Oliveira que é a pessoa que cria conteúdos maravilhosos sobre o perfeccionismo – e muitos outros temas relevantes para o desenvolvimento, saúde e bem-estar junto com sua parceira também maravilhosa Fernanda Scheer – e que também é uma mentora, e coração incrível.


Vale conferir o trabalho que a Milena faz aqui:






Curiosidade – A tal da carapuça:

“A carapuça serviu” é uma expressão que se originou no período da inquisição, uma espécie de tribunal eclesiástico estabelecido pela Igreja Católica, que julgava e punia os hereges. E usamos essa expressão quando normalmente nos identificamos com algo que outra pessoa fala e julgamos ser ruim. Uma mistura de vergonha e culpa com medo de ser descoberto.


A imagem abaixo mostra como eram as carapuças no tempo da inquisição. Essa espécie de chapéu que identificava quem estava sendo julgado. Pesado né? Vale notar o quanto esse sentimento de estar vestindo a carapuça surge no dia-dia e em que situações para notar onde temos julgamentos, culpas e de repente, notar algo importante para você mas que no momento está deixado de lado. Além do peso de um sentimento desafiador, tem um pote de ouro de autoconhecimento. Visite esse lugar com amor.



O Tribunal da Inquisição por Francisco Goya (1812-1819)

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