Não lembro ao certo quando escutei essa expressão. Acredito que era muito pequena, já que cresci dentro de um colégio religioso. Lembro de ter mais aulas de religião do que qualquer outra matéria. “Você precisa conhecer Deus”, os professores diziam. Eu lembro claramente da minha confusão, porque desde muito pequena tinha certeza que já conhecia esse tal Deus. Porém, não era exatamente como ensinavam. Não era exatamente como a interpretação das histórias da Bíblia.
Não preciso nem mencionar o quanto a religião (instituições criadas por homens) me afastou de Deus. Sinto muito se isso trouxer algum tipo de dor em quem está lendo, essa é somente minha vivência. Mas a verdade, é que eu via Deus em todo lugar e tinha uma certa intimidade com essa “figura”, que aqui vou chamar de Música. Porque Música é um arranjo de sons que vibra no peito, que você se conecta e se entrega, que acolhe, embala, impulsiona. Um frequência que te abraça e te faz transcender os limites do corpo. E essa Música sempre esteve em todo lugar. Com um detalhe; como num rádio, onde escolhemos a estação, eu sempre precisei escolher me sintonizar com a Música. A Música certa para mim. Aquela Música que se eu estivesse no chão, me levantaria e se eu estivesse lá no alto, me faria estender meus braços e carregar comigo mais um tanto de bailarinos, que somos todos.
Escolher a Música é ação inspirada. É assertividade e autorresponsabilidade. É sua melhor performance possível na vida. Mas atenção, é a sua Música, compreende? Não é aquela que te disseram que era. Não é aquela que você escuta porque sabe cantar de cor e salteado. É aquela Música que vibra no peito. Que se transforma no próprio coração. É o céu na Terra.
Eu que por um bom tempo achei que o céu na Terra era uma reforma que um dia aconteceria, com uma intervenção externa, um possível julgamento e acerto de contas, entendo hoje que isso acontece a todo momento. O céu na Terra já existe. A todo momento precisamos escolher a Música que vai embalar os acasos, descasos e milagres da vida.
Claramente, encontro olhares e corações que desconhecem esse paraíso. Eu mesma, quando tomo a decisão de não decidir, me vejo fora dessa Nova Terra. Também vejo pessoas com realidades muito duras, varridas pelos modelos sociais, pelos desprivilegios, mas ainda vejo a Música dentro de algumas delas.
Existem lições e contextos que são muito duros. Mas o céu na Terra é algo possível. Se aventurar pela Nova Terra que tem a Música como portal, pode transformar a nossa experiência como indivíduos coletivos que somos. Eu sei, é tudo muito sutil. Para alguns, talvez, completa abstração. Em algum momento a Música vai tocar. Quando ouvi-la, saiba que foi você que escolheu se sintonizar nessa estação. E saiba também que você pode se sintonizar sempre que se aventurar além dos limites da mente, dos terrores do medo. Quando todos dançarem livremente, entenderemos que estamos mais próximos uns dos outros do que podíamos imaginar. O céu na Terra é um lugar de todos.
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