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Writer's pictureJess Petkow Fraser

LEIA ESTE PRIMEIRO: Nunca Foram Partes

Updated: Mar 24, 2019

Pessoas queridas. Demorou um tanto para eu entender esse tal de ser por inteiro. Me passei por fragmentos (ou pequenas partes espalhadas por aí, você escolhe) desde o dia em que nasci. Não sei ao certo quem me diagnosticou com esse mal, mas certo momento aceitei como verdade, e fiz da minha vida a busca por todas as partes e uma possível reintegração (voltarei aqui em breve). Afinal, se olhar no espelho e ver um mosaico de partes, algumas delas faltantes, é um tanto estranho.

Do lado do olho direito um pequeno buraco, a boca havia somente a metade, descendo chegando no peito, onde supostamente encontraria um coração, vejo um grande ponto de interrogação. Assustador não é mesmo? E curioso, a medida em que fui crescendo encontrei mais partes, algumas delas nem sabia que estava faltando (será que estavam realmente faltando?). Ainda mais curioso, o mundo ao meu redor parecia estar todo fragmentado.

Na escola, dividiriam tudo para entendermos tudo melhor, sendo que no fim ficamos exilados em infinitos arquipélagos. Em casa tínhamos vários cômodos inutilizados ou que viraram depósitos de coisas que não queríamos lidar. No trabalho somente o eu profissional era permitido, sendo esse ser basicamente robótico, uma primeira versão de uma máquina que em breve seria inventada. Nos relacionamentos, totalmente separados de qualquer outra função, era onde depositávamos todas as responsabilidades que nos pertenciam. Enfim, um pequeno grande caos. Pequeno, porque somos pequenos diante do Universo. Grande, porque o caos é gigantesco para seres pequeninos como nós.

Assim era minha vida. Mil pedaços. Algumas vezes pedaços juntos, algumas vezes separados, muitas vezes perdidos. Tudo mudou no dia em que recebi uma pequena nota que eu mesmo escrevi, e nela dizia: “Nunca foram partes. São inteiros dentro de inteiros que formam um todo só”. Foi uma grande epifania que mudou tudo em um pequeno segundo.

Me olhei no espelho e vi tudo em mim, tudo de mim, todos os inteiros. Um dentro do outro. Pertencendo todos ao mesmo todo. Incrível. Nesse dia, entendi então, que escolhi meu viver com base num diagnóstico incorreto. E que precisei encontrar dentro de mim essa pequena nota de alforria. Nota que me libertou dos diagnósticos e me aprisionou comigo mesma. Que sorte a minha ser obrigada a lidar comigo mesma! Imagina que coisa esquisita passar uma vida achando que não se É, quando tudo o que É, É. E ainda por cima, É por inteiro?

Pessoas queridas, a reintegração de algo é desnecessária quando nunca existiram fragmentos. Parece OK se dosar o tudo com um conta-gotas, afinal a coragem para superar o grande medo, vem da superação de pequenos medos (será?). Mas não me parece OK fingir que tudo não faz parte do todo. Este todo que É por inteiro.

A função desse espaço é compartilhar esses inteiros. Vai que por alguma chance, eles não são só meus?



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1 Comment


karla.azana
Dec 19, 2018

Sentir o processo de espiral da vida é ser todos segmentos conectados. Cada vento, cada toque, cada palavra, cada olhar, cada sorriso é um novo segmento do todo, que não se fragmenta, mas se caracteriza. Muito lindo! Coragem para ser quem se é! Avivaaa, Jess!

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